A OFICINA DE HISTÓRIA E FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA do IHC procura colocar a produção de teoria em contexto e interrogar o passado recente tendo como ponto de partida teorizações vindas de campos que não a História (como as Ciências da Comunicação, os Estudos Culturais ou os Estudos de Performance), os Estudos Pós Coloniais, as teorizações críticas sobre o neoliberalismo, ou o conjunto díspar de autores que se agrupou sob a epítome de French ou Italian Theory. Remontando sobretudo (mas não apenas) às transformações advindas com o segundo pós guerra, esta oficina procura inquirir os macro-contextos de transformação política, social e económica bem como as resistências que lhes estão associadas – e que deram origem a estas teorizações.

Funcionando em parceria a rede Workiteph, em 2017-2018 a oficina será dedicada àquilo a que se tem vindo a dar o nome de Italian Theory, expressão que visa agregar um corpo de reflexões que junta perspectivas de crítica da filosofia política clássica aplicada aos temas da contemporaneidade: biopolítica, soberania, transformações históricas e sociais do capitalismo, abarcando uma série de linhas de pensamento diferentes e muitas vezes divergentes, sendo parte considerável da sua produção teórica desenvolvida ou aprofundada nas décadas de 1960 e 1970, período político bastante intenso a nível mundial e em Itália, em particular. Durante esta década o capitalismo sofreu profundas alterações, fruto também da resistência de novas formas de vida que entram em cena. Pretende-se neste conjunto de sessões esboçar uma genealogia que possibilite olhar para a Italian Theory, nas suas diferentes vertentes, como uma ferramenta para compreender as transformações políticas, culturais e económicas que ocorreram nos últimos anos não só em Itália mas no mundo.

Investigadores responsáveis: Ana Bigotte Vieira (IHC, CET), João Santos (IHC), Gianfranco Ferraro (IFILNOVA), Luhuna Carvalho (CRMEP, Kingston University).

DESCRIÇÃO DAS SESSÕES

Em 2017-2018, a Oficina de História e Teoria encontra-se estruturada numa série 3+1 encontros intensivos ao longo do ano, com palestras, leitura e discussão de textos e visionamento de filmes. Concebida como ocasião de estudo e espaço experimental de aprendizagem, a oficina procura, por um lado, colocar a produção de teoria em contexto e, por outro, averiguar a sua possível actualidade. A sua articulação é portanto dúplice e cada sessão deverá ser composta por um mínimo de 2 partes, em 2 dias. Assim, se no primeiro dia de cada oficina se parte de uma contextualização histórica e cronológica em crescendo nas várias sessões ao longo do ano (ex.1950-1960 correspondendo á primeira sessão; 1960-1970 à segunda sessão...), no segundo dia o ponto de partida é sempre temático e organizado em torno de pares/tríades de conceitos teóricos (ex. povo/multidão; fuga/êxodo; trabalho material/ imaterial, afectivo e capitalismo cognitivo), servindo o segundo dia da primeira sessão para um mapeamento da constelação de conceitos a interrogar.

SESSÃO#3 O TRABALHADOR, O MILITANTE E O MONSTRO: VISUALIZAR SUBJECTIVIDADES REVOLUCIONÁRIAS NA ITÁLIA DOS ANOS 60 E 70

12 Outubro
Livraria Tigre de Papel
16.30h Seminário por JACOPO GALIMBERTI com moderação de ROSA BAPTISTA

Ao longo dos últimos vinte anos, e em particular desde a publicação de Império de António Negri e Michael Hardt em 2000, que o radicalismo dos militantes italianos nas décadas de 1960 e 1970 tem sido a ser reavaliado por artistas, activistas e académicos. Não obstante, pouco tem sido escrito sobre a produção dos artistas para quem o operaísmo e a autonomia constituía uma inspiradora caixa de ferramentas, repositório de imagens, temas e tópicos.
Encontrando-se presentemente a escrever um livro – título provisório The Workers’ Point of View: Operaismo, Autonomia and the Arts (1961-1988) – em torno do trabalho e das vidas de artistas, arquitectos e designers que se apropriaram de ideias do operaísmo e da autonomia, Jacopo Galimberti partilhará nesta apresentação algumas ideias-chave da sua pesquisa. Em particular, focar-se-á na visualização das novas subjectividades que emergiram nos Anos 1960 e 1970, pois uma preocupação partilhada pelos artistas inspirados pelo operaísmo consistia na criação de imagens que espelhassem a cultura material das lutas e o “ponto de vista dos trabalhadores”. A sua análise dividir-se-á em três partes: em primeiro lugar examinará os desenhos que apareceram na classe operaia, muito possivelmente a primeira revista operaísta, onde a iconografia do trabalhador contrastava vivamente com a esboçada até então pelos principais partidos de esquerda. Em segundo lugar concentrar-se-á na instalação Centro di Conspirazione Ecletica dos Archizoom que é, na realidade, um cenotáfio para Malcom X, engajado com a figura do líder político e a contracultura da classe trabalhadora norte americana. Em terceiro e último lugar, focar-se-ão os desenhos de Pablo Echaurren publicados na revista Lotta Contínua m 1977. Esboçados no final de quinze anos de lutas, a sua teratologia revela como novas ideias de subjectividade e agencialidade eram então refractadas sob o prisma da arte militante.

Curadoria: Ana Bigotte Vieira
Organização: Instituto de História Contemporânea, FCSH- UNL e WORKITEPH
Apoio: CML/DMC; Fundação Calouste Gulbenkian – Programa Língua e Cultura Contemporânea


SESSÃO #2 ÍNDIOS METROPOLITANOS (1960-1970)
4 e 5 de Abril

Dia 4 de Abril
Auditório 2, FCSH, Torre B
17h Filme "Lavorare con Lentezza" de Guido Chiesa

Dia 5 de Abril,
Sala Multiusos 2 (ID)
10.30h Seminário por FRANCO TOMASSONI “Estrutura de classes e movimentos políticos na Itália dos anos 60”
14.30h Seminário por RICARDO NORONHA “O outro movimento operário”

DESCRIÇÃO DETALHADA

Na sessão da manhã procura-se fazer uma contextualização histórica dos Longos Anos Sessenta, problematizando o aparecimento do movimento estudantil enquanto sujeito colectivo na sua relação com o movimento operário. Observando os modos como a reformulação dos modos de produção – e a urbanização, industrialização e terceirização suas decorrentes – exige uma força de trabalho mais qualificada e consumidores mais sofisticados, procurar-se-á entender a figura do estudante como indissociável da figura do trabalhador e do consumidor, discutindo o papel dos jovens proletarizados na crítica social – e os moldes em que esta é por eles levada a cabo. Entendendo o período como indissociável de um contexto global marcado pelos movimentos de descolonização e pela Guerra Fria, especial atenção será dado ao contexto Italiano e ao contexto português, que se procura visitar cronologicamente.
Na sessão da tarde, tomando como ponto de partida o conjunto de rupturas que o aparecimento do movimento estudantil dos anos 60 irá provocar no modelo de vida industrializado (com a sua “tradicional” distribuição de papéis e funções), procurar-se-á mapear um conjunto de discussões e teorizações em que em causa estaria o aparecimento de novos sujeitos e temas políticos; a tensão entre o trabalho produtivo e o trabalho improdutivo; a ideia de desejo; a crítica ao urbanismo e ao quotidiano ou, de um ponto de vista mais geral, uma noção de estranhamento que colocaria em causa a própria relação fundadora do fordismo.

SESSÕES ANTERIORES

SESSÃO #1 | A CLASSE OPERÁRIA VAI PARA O PARAÍSO
30 e 31 de Outubro de 2017

Esta primeira sessão pretende ter um primeiro momento de contextualização histórica que nos permite compreender as transformações e conflitos sociais ocorridos entre os anos 50 e 70 e um segundo momento que parte dos contributos mais recentes daquilo que é chamado “Italian Theory”. A ideia não será desenvolver uma leitura separada destes dois momentos, mas permitir que se cruzem constantemente, ou seja, tentar vislumbrar no primeiro momento as potencialidades que desembocaram nas análises “pós-operaistas” do fim do século XX, assim como ter presente as análises antagonistas existentes nos anos 60 e 70 e de como essas podem ser e/ou foram reinventadas nos dias de hoje.

30 de Outubro

10.00- 13h
Apresentação da Oficina
Contextualização histórica das transformações sociais, culturais e políticas na itália dos anos 50 a 70. O movimento operaísta e a autonomia – apresentação por Gianfranco Ferraro e Riccardo Marchi.

14h – 17h
Leitura e discussão de Storming Heaven de Steve Wright

Materiais:
Leitura principal: Storming Heaven de Steve Wright – “Weathering the 1950s” (p.6) até “New Subjects” (p. 106)
Leituras Secundárias: A Fábrica e a Sociedade, Mario Tronti (1962) Let’s Spit on Hegel, Carla Lonzi (1970)

19.30
Filme: La classe operaia vai in paradiso (1971)

31 de Outubro
10.00- 13h
Luhuna Carvalho –Apresentação/ mapeamento de conceitos e contributos surgidos no seio do operaísmo e pós-operaísmo

14h – 17h
Leitura e discussão de A Gramática da Multidão Paolo Virno

Materiais:
Leituras principais: A Gramática da Multidão Paolo Virno
'The Italian Difference', Antonio Negri in 'Italian Difference: between nihilism and biopolitics', Lorenzo Chiesa and Alberto Toscano


INFORMAÇÕES ÚTEIS E INSCRIÇÃO

- Por uma questão de organização pedimos a tod@s que queiram participar que se inscrevam. Basta enviarem um mail para este endereço: oficinafilosofiacontemporaneai@gmail.com.

- Os textos sugeridos podem ser descarregados aqui:
https://drive.google.com/…/fo…/0B-y5JwoiJtetb0hWclBkYktpNnM…

PRÓXIMAS SESSÕES (datas a definir)
Inverno 2019
SESSÃO#4 A Revolução acabou. Vencemos! (1970-1990)

Primavera 2019
SESSÃO#5 Notícias falsas produzem acontecimentos verdadeiros. (1990-2010)

NOTAS BIOGRÁFICAS

Jacopo Galimberti é investigador de pós doutoramento na Universidade de Manchester com uma bolsa da British Academy. A sua investigação tem incidido sobre a arte do pós II Grande Guerra na Europa Ocidental. Encontra-se presentemente a escrever um livro sobre operaísmo, autonomia e artes visuais. Tem publicado em revistas como Art History, The Oxford Art Journal e Grey Room. É autor de Individuals against Individualism. Western European Art Collectives (1956-1969) pela Liverpool University Press.

Ricardo Noronha (1979) doutorou-se em História pela Universidade Nova de Lisboa, com uma dissertação dedicada à nacionalização do sistema bancário durante o processo revolucionário português. É investigador do Instituto de História Contemporânea (NOVA FCSH), no âmbito do qual se tem dedicado ao estudo da conflitualidade social e das transformações da economia e sociedade portuguesa durante a segunda metade do Século XX.

Franco Tomassoni é licenciado em Antropologia pela Facoltá di Lettere e Filosofia dell'Universitá di Bologna, mestre em Relações Internacinais pela FCSH, doutorando no programa de estudos sobre a globalização, investigador do IPRI.
Gianfranco Ferraro é investigador post-doc no Instituto de Filosofia da Linguagem (IFILNOVA) da Universidade Nova de Lisboa, onde desenvolve um projeto sobre a arqueologia da subjectividade. Recentemente raduziu para o italiano “O imperceptivel devir da imanência. Sobre a filosofia de Deleuze” do filósofo português José Gil, e “De l'Utopie!” do filósofo francês Pierre Macherey.

Luhuna Carvalho (convidado) prepara um doutoramento em filosofia no Centre for Research in Modern European Philosophy da Kingston University. O seu tema versa sobre a relação entre a autonomia operária em Itália e o pensamento do filósofo alemão G.W.F. Hegel.

Riccardo Marchi é investigador de pós-doutoramento no Centro de Estudos Internacionais do Instituto Universitário de Lisboa (CEI-IUL) com um projecto sobre contra-subversão em Portugal durante a Guerra Fria em perspectiva comparada. As suas áreas de investigação são o radicalismo de direita (pensamento político, partidos e movimentos) e as relações entre Estados e organizações radicais na Europa contemporânea.

Ana Bigotte Vieira (IHC) é doutorada em Ciências da Comunicação (FCSH-UNL) tendo-se licenciado em História Moderna e Contemporânea (ISCTE) e especializado em Cultura e Filosofia Contemporâneas (FCSH-UNL), e Estudos de Teatro (UL). Entre 2009 e 2012 foi Visiting Scholar na NYU/Tisch. A sua tese de Doutoramento recebeu uma Menção Honrosa em História Contemporânea (FMS). Esta investigação incide sobre o papel performativo dos Museus de Arte Moderna, centrando-se nas transformações culturais por que Portugal passa após a entrada na CEE – e o modo como estas encontram no corpo um terreno particular de expressão. Traduziu Luigi Pirandello, Spiro Scimone, Aniballe Ruccello, Giorgio Agamben e Maurizio Lazzarato.

João Santos, IHC é licenciado em Ciência Política pelo ISCTE e mestre em História Contemporânea pela FCSH-UNL. Tem-se debruçado sobre a experiência e memória da classe operária em contextos (des)industrializados, partindo da região de Setúbal, e sobre as transformações económicas que tiveram início a partir dos anos 80.

AGRADECIMENTOS: Jacopo Galimberti, Sandra Lang, José Neves, Bernardino Aranda, Joana Bértolo,
IMAGEM DO CARTAZ: Uliano Lucas

OFICINA DE HISTÓRIA
E FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA
IHC/ WORKITEPH